sábado, 21 de julho de 2007

Artigo da Psicologa Maria Regina

Sentindo-se só
Maria Regina Canhos Vicentin

Às vezes, a gente se sente completamente só. Não que necessariamente estejamos sozinhos, mas intimamente nos sentimos dessa forma. A melancolia toma conta de nós, pois normalmente existem muitas coisas a serem feitas, e sem ter quem ajude nos sentimos sobrecarregados. Gostaríamos de poder dividir a responsabilidade com alguém, ou mesmo descansar um pouco para ganhar novo fôlego. Parece não haver quem se interesse pela nossa situação. Todo mundo está tão ocupado com seus próprios problemas, que passamos despercebidos, não somos notados. Uma sensação de tristeza toma conta de nós. Um abatimento oriundo do cansaço de trabalhar sem trégua para fazermos o melhor que podemos. Nosso coração acelera e temos vontade de chorar. Será que ninguém percebe? Será que ninguém vê? A ansiedade vai dando lugar à resignação. É verdade; estamos sós!
Penso que Jesus se sentiu assim no Horto das Oliveiras (Mc 14, 32-42). Ele estava angustiado e com medo. Pediu a Pedro, Tiago e João que o acompanhassem, e eles o obedeceram, mas se sentia só, pois mesmo pedindo para que vigiassem em oração, eles adormeceram por três vezes. Assim, Jesus não estava sozinho, tinha companhia, mas se sentia só, pois seus amigos não comungavam seus sentimentos e sua apreensão. Não é assim mesmo que nos sentimos tantas vezes? Rodeados por pessoas que não entendem, não conseguem assimilar as dificuldades pelas quais passamos. Temos vontade de chorar.
Desamparados, não sabemos a quem recorrer. Temos a impressão de estar sós no mundo, nadando contra a correnteza. Trezentos mil pouco se importando conosco, e nós completamente esgotados, sem forças para reagir. Decepcionados com a política, com o nosso salário, com a vida que estamos vivendo onde falta muito, porque uns poucos têm sobrando. É, parece que estamos sozinhos.
Insistimos em respeitar as leis, as normas de trânsito, as demais pessoas. Procuramos educar nossos filhos dentro de padrões morais adequados, seguindo princípios éticos e humanitários. Levamos em conta que a natureza é um bem de todos e, portanto, necessário alvo de preservação. Acolhemos os idosos com respeito. Cuidamos das crianças com carinho. Somos honestos apesar de assistirmos dia-a-dia a multiplicação de atos infracionais, roubos, crimes, fraudes e desrespeito à população em geral. Acreditamos na justiça, embora ela continue por demais morosa e, realmente cega, diante das desigualdades sociais. Somos tementes a Deus, mesmo achando que, às vezes, Ele parece ter tirado férias sem nos avisar, e sem se importar com os rumos deste nosso mundo, já que nos concedeu o livre-arbítrio, certo de que tínhamos maturidade para exercê-lo. É, parece que estamos realmente abandonados.
Bom, mas se até Jesus, o filho de Deus, se sentiu assim na cruz (Mc 15, 34), quem somos nós para reivindicar tratamento diferenciado? Somos forçados a crer na marra. Acreditar que, um dia, as coisas vão melhorar, nem que seja no dia da nossa ressurreição. O problema é que, do jeito que as coisas estão, tem muita gente se sentindo sozinho até para acreditar que somos dignos das promessas de Cristo. Será que desta vez a gente se salva? Algo me diz que vamos ter de descobrir isso, sozinhos!

Maria Regina Canhos Vicentin é psicóloga e escritora

Nenhum comentário: