terça-feira, 31 de julho de 2007

lançamento



CRIMES MISTERIOSOS AMEAÇAM NOVA YORK DURANTE A VISITA DE FREUD AOS ESTADOS UNIDOS
“Recriação fascinante de uma época de ouro em que se reconhece muito da Nova York de hoje, com personagens reais e ficcionais”- The Guardian

“Num livro que presta grande homenagem aos cânones da narrativa de mistério contemporânea, não faltam boas doses de inspiração, informação, perspicácia e humor”- The New York Times

Serviço
A interpretação do assassinato
Jed Rubenfeld
488 páginas
R$ 53,00
Companhia das Letras



Em 29 de agosto de 1909, Sigmund Freud chega a Nova York acompanhado de seus então discípulos Carl Jung e Sándor Ferenczi. Era sua primeira visita aos Estados Unidos, onde daria conferências e entrevistas para difundir a psicanálise no continente.No dia seguinte ao desembarque de Freud, Nova York amanhece com uma notícia estarrecedora: Elizabeth Riverford, uma garota da alta sociedade, fora torturada até a morte num luxuoso arranha-céu. Mais um dia, e surge uma segunda vítima, provavelmente do mesmo criminoso. Atacada em sua própria casa, num bairro rico de Nova York, Nora Acton conseguiu escapar com vida, mas está sofrendo de histeria, perdeu a voz e não consegue lembrar do que aconteceu na noite em que foi agredida.
Aproveitando a presença de Freud na cidade, a polícia de Nova York o procura para ajudar no esclarecimento do crime. Mas o responsável pelas sessões de análise que farão com que Nora se lembre da noite do crime será o jovem psicanalista Stratham Younger; Freud decide apenas supervisioná-lo. Em meio a insinuantes sessões de análise, especulações teóricas sobre o caso e releituras da obra de Shakespeare, o jovem psicanalista leva às últimas conseqüências os pontos de contato entre o processo psicanalítico e os métodos de investigação policial.
Combinando elementos do thriller noir e do romance histórico, em que personagens célebres - como o prefeito de Nova York, George McClellan, e o milionário assassino Harry Thaw - convivem com imigrantes chineses, detetives obstinados e mulheres fatais, A interpretação do assassinato, lançado no Brasil pela Editora Companhia das Letras, renova e revigora como poucos a ficção policial contemporânea. O crescimento explosivo de Manhattan, as relações promíscuas entre a aristocracia e os políticos nova-iorquinos, a resistência puritana às idéias de Freud sobre a sexualidade e os rachas dentro da própria psicanálise são algumas das situações reais que aparecem recriadas neste enredo ficcional eletrizante, onde não faltam pistas falsas, mulheres em perigo, psicanalistas excêntricos e cadáveres desaparecidos.

A HISTORIA POR TRAS DO LIVRO
Por Jed Rubenfeld


A interpretação do assassinato é uma obra de ficção do começo ao fim, embora muito nela seja baseado em fatos reais. Sigmund Freud visitou de fato os Estados Unidos em 1909, chegando a bordo do vapor George Washington com Carl Jung e Sándor Ferenczi na noite de 29 de agosto (embora a biografia clássica de Ernest Jones assinale a data como 27 de setembro, "corrigida" em edições posteriores para o também equivocado 27 de agosto). Freud realmente se hospedou no Hotel Manhattan em Nova York por uma semana antes de viajar à Universidade Clark para dar suas famosas conferências, e ele de fato adquiriu certo horror pela América. Nos Estados Unidos, Freud foi de fato solicitado a conduzir análises improvisadas, embora nunca, ao que se saiba, pelo prefeito de Nova York.
A Manhattan de 1909 descrita neste livro foi exaustivamente pesquisada. A arquitetura, as ruas da cidade, a alta sociedade - todos os detalhes, inclusive a cor dos táxis, se baseiam em fatos. Eu não pude, entretanto, me ater à realidade em todos os detalhes de Nova York. Para começar, alguns lugares tiveram de ser modificados. O principal necrotério da cidade, por exemplo, ficava, à época, no Hospital Bellevue, na rua 26, ao passo que situei o legista Hugel - um personagem ficcional - e seu necrotério no centro, em um edifício inventado. Da mesma forma, tive de inventar o Balmoral, onde o corpo de Elizabeth Riverford foi encontrado, mas leitores versados reconhecerão de imediato o edifício real - o Ansonia - em que o Balmoral, inclusive a fonte com as focas que nela brincavam, se baseia. Ou, de novo, ao passo que o caixão da ponte Manhattan seja factual na maioria dos aspectos, ele já estaria preenchido de concreto em setembro de 1909 e não teria as câmaras de eliminação de detritos que se abriam para o rio, descritas como "janelas" neste livro. Na verdade, haveria uma calha pressurizada mais longa para detritos, mas eu precisava das "janelas" por razões que não é necessário explicar aos que leram o livro.
Eu também desloquei certos acontecimentos históricos para adiante ou para trás no tempo. Um pequeno exemplo inclui a referência de Abraham Brill aos "americanos hifenizados" de Theodore Roosevelt. Conhecedores de história dirão que Roosevelt proferiu seu conhecido discurso sobre os "americanos hifenizados" em 1915. (O termo disparatado era, porém, amplamente usado em 1909, e a imprensa veicularia a opinião de Roosevelt antes de 1915. Leitores interessados podem, por exemplo, consultar o New York Times de 17 de fevereiro de 1912, à página 3, que nos diz que Roosevelt "denunciou os americanos hifenizados" em um artigo que ele acabava de publicar na Alemanha. Brill, consciente do sotaque alemão durante toda a vida, teria sido altamente sensível a essa questão.) Ou, de novo, os textos que o dr. Younger consulta para descobrir a causa da visão em que Nora Acton se vê deitada na própria cama são reais, mas vários deles foram escritos depois de 1909. Por outro lado, o detetive Littlemore pode, de fato, ter lido o conto de H. G. Wells que descreve um acontecimento semelhante; o conto, Under the knife [Sob a faca], apareceu primeiro por volta de 1896.
Outro deslocamento temporal discreto contempla a greve na Triangle Shirtwaist Company, onde Betty conseguiu emprego; a greve aconteceu apenas em novembro de 1909 (o célebre incêndio ocorreu em 1911). Outro é o baile fictício da sra. Fish no Waldorf-Astoria. Na realidade, a temporada social de 1909 em Manhattan começaria mais tarde. De passagem, o Waldorf-Astoria aqui descrito não é o hotel que conhecemos hoje pelo mesmo nome, localizado na Park Avenue ao norte do terminal Grand Central. O primeiro Waldorf-Astoria ficava na Quinta Avenida com a rua 34; foi demolido em 1930 para dar lugar ao Empire State Building.
O caso mais significativo de deslocamento temporal é minha abordagem do rompimento de Jung com Freud, que na realidade se estendeu ao longo de um período de três anos e culminou por volta de 1912. Eu selecionei os eventos relevantes e os desloquei para os Estados Unidos mesmo sabendo que tiveram lugar em outras paragens. A despeito disso, as cenas entre Freud e Jung descritas em meu livro - por espantosas que pareçam - aparentemente ocorreram na realidade. Por exemplo, um estampido alto e misterioso de fato interrompeu os dois homens em meio a uma discussão sobre o oculto (com Freud numa posição cética), e Jung de fato reconheceu ter causado o ruído telecineticamente por meio do que ele chamou de "exteriorização catalítica". Quando Freud zombou dele, Jung previu a imediata recorrência do som para provar seu ponto de vista, e, inexplicavelmente, suas palavras se provaram verdadeiras. O episódio teve lugar, porém, não em um quarto do Hotel Manhattan em setembro de 1909, mas na casa de Freud em Viena em março do mesmo ano. Além disso, Freud desmaiou por duas vezes na presença de Jung, entre elas numa ocasião em 20 de agosto de 1909, véspera da partida dos viajantes para a América. O "percalço" enurético de Freud em Nova York foi revelado pelo próprio Jung em 1951 - embora Jung pudesse ter inventado a história para descreditar Freud.
Os biógrafos de Jung discordam acerca da sua suposta promiscuidade, de seus delírios e de seu anti-semitismo. O retrato de Jung neste livro é apenas isto - um retrato -, baseado em seus escritos e cartas, e em conclusões tomadas por alguns, mas não todos, dos que escreveram sobre ele.
Os leitores podem se perguntar se Freud e Jung teriam realmente expressado as opinões que eu lhes atribuo em A interpretação do assassinato. A resposta, em quase todos os casos, é que eles as expressaram. Muito do diálogo entre Freud e Jung é extraído de suas próprias cartas, ensaios e declarações descritas em outras fontes publicadas. Por exemplo, em meu livro Freud diz: "O prazer de satisfazer um selvagem impulso instintivo é incomparavelmente mais intenso do que o de satisfazer um instinto que já foi domado pelo ego". Leitores interessados podem encontrar a frase correspondente em Mal-estar na civilização, de Freud, de 1930, no volume 21, página 98, da edição Standard das obras completas de Freud.
Como devem ter notado de imediato os aficionados de Freud, Nora se baseia em Dora, a jovem descrita na história de caso mais controvertida de Freud. O nome real de Dora era Ida Bauer; ela não era americana, nem foi atendida por Freud na América, embora tenha morrido em Nova York em 1945. Nora não é em nenhum sentido uma cópia de papel-carbono de Dora, mas os fatos básicos das agruras de Nora - o assédio do melhor amigo do pai, a recusa do pai em tomar seu partido quando ela se queixou a ele, o caso do pai com a mulher do mesmo amigo e a atração da própria Nora pela esposa dele - podem todos ser encontrados no caso Dora. A interpretação edipiana da histeria de Nora que Freud ofereceu a Younger em meu livro, inclusive o componente oral, é a interpretação factual que Freud deu à Dora da vida real. Os ataques físicos, contudo, e o mistério do assassinato são, naturalmente, inteiramente imaginários.
A tentativa do prefeito McClellan de tirar de Tammany Hall o controle do governo da cidade é bem conhecida. Na verdade, é possível que McClellan tivesse supervisionado pessoalmente uma investigação importante de homicídio em setembro de 1909, porque à época ele havia submetido todo o departamento de polícia ao controle da prefeitura. Por outro lado, o interesse de McClellan em assegurar a nomeação para mais um mandato é pura especulação. Em público, ele insistiu em que não concorreria.
Charles Loomis Dana, Bernard Sachs e M. Allen Starr são figuras históricas. Eram de fato conhecidos como o Triunvirato; eram todos inimigos ferrenhos de Freud e da psicanálise. Desejo enfatizar, porém, que os atos vis implicitamente atribuídos a eles aqui são completamente fictícios. Não houve nenhum complô para frustrar as conferências de Freud na Clark. Também com finalidade dramática exagerei a riqueza de Dana e sua relação de parentesco com a família mais ilustre que portava o mesmo sobrenome. Embora Charles L. Dana descendesse aparentemente do mesmo ancestral eminente que os Dana mais distintos, ele nasceu em Vermont e pode nem ter tido um conhecimento preciso de sua ligação com Charles A. Dana, com os outros Dana de Nova York, ou com os Dana de Boston. Smith Ely Jelliffe é outra figura histórica que enfeitei. Jelliffe não era, por exemplo, rico; nem existe nenhuma razão para se pensar que fosse um mulherengo. (De passagem, embora o Players Club tivesse de fato existido, a sugestão de que ali campeava a prostituição é pura especulação.) Ocorre, no entanto, que Jelliffe foi de fato tanto o principal especialista psiquiátrico do assassino Harry Thaw como o editor do primeiro livro de Freud em inglês - o Estudos sobre a histeria, traduzido por Abraham Brill. Aconteceu também de Jelliffe ter comparecido a encontros do Clube Charaka, a sociedade exclusiva (mas não secreta) fundada em conjunto por Dana e Sachs.
Os relatos das agressões sádicas de Thaw contra a jovem esposa e outras mulheres são retirados quase literalmente de fontes documentais. Apenas como registro, vale dizer que o testemunho espantoso da sra. Merrill não ocorreu no julgamento por homicídio de Thaw em 1907, mas em uma das audiências subseqüentes referentes à sanidade de Thaw. Todavia, não passa de lenda urbana (embora reportada como fato em numerosas ocasiões) que Thaw foi julgado no tribunal de Jefferson Market; ele foi indiciado ali, mas seus dois julgamentos por assassinato tiveram lugar nas cortes criminais da rua Centre, próximas de Tombs. Não há provas de que Thaw tivesse visitado o estabelecimento da sra. Merrill, ou qualquer estabelecimento similar, durante o período de confinamento no asilo de Matteawan. Dada a facilidade com que escapou dali, porém, uma ausência sem autorização não teria sido inconcebível.
] corpo da srta. Elsie Sigel, neta do general Franz Sigel, foi de fato descoberto no verão de 1909 em um baú num apartamento da Oitava Avenida pertencente a um Leon Ling. O personagem Chong Sing do meu livro é uma combinação do Chong Sing verdadeiro com um outro indivíduo também envolvido no caso. O corpo da srta. Sigel, porém, foi encontrado cerca de dois meses e meio antes da chegada de Freud em Nova York, e, desnecessário dizer, a descoberta não foi feita pelo detetive Jimmy Littlemore, que é um personagem inteiramente imaginário.
Igualmente imaginário é o dr. Stratham Younger, bem como o caso amoroso de Younger com Nora.

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