quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Lançamento da Editora Vozes




Livro discute poder
da comunicação na sociedade





Interpretar a sociedade a partir da comunicação. Essa é a proposta de Estética da Comunicação, de Luís Mauro Sá Martino. Formado em Comunicação pela Cásper Líbero, Doutor em Ciências Sociais pela PUC, atualmente está estudando mídia e cultura pop na Universidade de East Anglia, em Norwich, Inglaterra.


Nascido em 1977, publicou em 2003 Mídia e Poder Simbólico e O habitus na Comunicação, este em parceria com Clóvis de Barros Filho. Em 2004 organizou com Beatriz Muniz de Souza a coletânea Sociologia da Religião e Mudança Social. No ano seguinte, 2005, publicou Comunicação: troca cultural, todos pela editora Paulus, de São Paulo. Estética da Comunicação é seu primeiro livro publicado pela Vozes. Nesta entrevista, fala de seu novo livro e das relações entre seus trabalhos anteriores e como a comunicação pode interferir em toda a sociedade.




Como se a comunicação fosse o centro de tudo o que acontece?


Sá Martino- Isso, por aí. Toda comunicação nasce de uma ação e gera novas ações, portanto entender as relações sociais significa entender as relações de comunicação. Um ato politico, por exemplo, é algo prático se transformando em atos de comunicação reconvertidos em atos práticos. Essa interação entre comunicação e ação precisa ser melhor compreendida. Toda ação é um ato de comunicação.




Mas isso não deixa de lado as relações que não são de comunicação?
Sá Martino- As relações sociais são relações de comunicação. Isso se aplica a praticamente todos os elementos da vida humana. No livro, tentei aplicar esse princípio a diferentes campos – da interação emocional à literatura, à política e à ação social. A comunicação parece ser uma chave para compreender aspectos da vida humana que nem sempre são visíveis.



Você disse que escreveu o livro em oito semanas. Como foi isso?
Sá Martino- Há uns dez anos eu vinha estudando o tema, mas foi o convite para uma palestra no final de 2006 que me deu o estalo final para escrever, colocar em alguma ordem os resultados de dez anos de trabalho. A partir daí fiquei oito semanas aproveitando qualquer minuto livre para escrever.



Foi uma versão do doutorado?


Sá Martino -Não, nem pensar. O doutorado está acadêmico demais. Alguém menos educado diria que é “chato” – acho que muitas teses são. É um uma linguagem correta e adequada, não estou criticando, mas para publicar teria que fazer milhares de alterações.



Esse é seu quinto livro. Os anteriores também eram sobre o mesmo assunto?
Sá Martino- Estão todos relacionados, mas o recorte é muito diferente. No primeiro, Mídia e Poder Simbólico, analiso as relações entre mídia, política e religião. No Habitus na Comunicação, escrito com Clóvis de Barros Filho, a gente estuda as contradições do campo da comunicação a partir da obra de Pierre Bourdieu. Os dois são de 2003, eu tinha 25 anos. Depois, no ano seguinte, organizei com Beatriz Muniz de Souza o Sociologia da Religião e Mudança Social. Aí em 2005 apareceu o Comunicação: troca cultural, o mais próximo do Estética. Lá começo a trabalhar a idéia de entender a cultura a partir das relações em comunicação, mas o Estética vai é bem mais radical nessa proposta.




O livro junta idéias de sociólogos, filósofos e estudos de comunicação. Não é perigoso colocar lado a lado idéias tão diferentes?


Sá Martino- O estudo da comunicação exige a explosão das fronteiras disciplinares. Não é possível tratar de um fenômeno complexo como se fosse propriedade de uma ou outra área específica do saber. É possível, claro, ver a comunicação com olhares próprios de cada área, mas o estudo dos atos comunicativos demanda o trânsito entre várias regiões do conhecimento.




Mas e as contradições entre as várias teorias em que o livro se apóia? Não há o risco de cair em um ecletismo superficial?


Sá Martino -Não, porque o ponto de vista é a comunicação. Interessa o que diz respeito às relações de comunicação, o que há de concreto em relação à isso em várias filosofias. O livro não discute esta ou aquela teoria, mas procura aproveitar o que há de útil em relação ao tema.



Alguns dos autores não são contraditórios entre si?
Sá Martino- A princípio acho complicado aceitar ou rejeitar uma teoria ou filosofia em bloco. O problema são interpretações de manual – “para Marx tudo é a economia” ou “para Freud tudo é o inconsciente”. Nenhum pensador digno desse nome é assim óbvio. A obra da maior parte dos clássicos tem esse título porque permite uma infinidade de conexões com o mundo atual e com outras idéias. A questão é qual critério será usado para essas conexões. Estética da Comunicação procura abrir alguns caminhos nesse emaranhado procurando as relações de comunicação.

A palavra “estética” não está ligada à arte?
Sá Martino
-Ah, essa está lá no livro. Atualmente, sim, mas estética vai além de uma teoria ou filosofia da arte. Estética da Comunicação é a área da Teoria da Comunicação que trata das relações entre o ser humano e a comunicação. Essa relação exige pensar a comunicação como parte integrante da sensibilidade de cada indivíduo. Sensibilidade vem do grego aesthesis, traduzido por “Estética”. Não é um livro sobre arte.



E qual foi o roteiro até essa noção?
Sá Martino
-O estudo da comunicação leva a inúmeros caminhos. Ver a comunicação ao mesmo tempo como uma teoria social e uma teoria do conhecimento é um desses caminhos. Há tempos venho tentanto unir esses dois elementos em uma síntese lógica. Em um livro de 2005, Comunicação: troca cultural, procuro mostrar essa síntese entre relações de comunicação e a cultura cotidiana.

Como isso acontece?
Sá Martino
-Entender a comunicação significa entender que, ao dizer ou escrever alguma coisa, estou colocando em ação uma série de categorias de conhecimento – categorias interpretativas, se preferir – que me fazem ver o mundo de certa maneira. É a partir dessa certa visão é que eu falo com os outros. São essas categorias que me fazem dar a uma frase o significado que eu pretendo, e que nem sempre pode ser o mesmo atribuído por outra pessoa. Afinal, não compartilhamos todas as categorias de conhecimento.

Não é arriscado reduzir tudo à comunicação?
Sá Martino
- Não é uma postura determinista. Mas parece que examinar as relações de comunicação é um estudo que deve ficar ao lado de outras analises da comunicação. Não me parece tão importante centrar na análise dos meios de comunicação como se fossem peças autônomas com vida própria, mas na relação dos seres humanos que convivem com esses meios. Essa é a esfera da sensibilidade, da aesthesis que falei.

E quais as conseqüências práticas desse estudo?
Sá Martino-
As relações de comunicação são relações de poder. A possibilidade de expressão não é igual para todos, e essa é uma ilusão muito comum. Estudar comunicação é entender um pouco mais as relações de poder, as formas de manifestação do poder dentro de cada sociedade. E conhecer o poder é uma das primeiras maneiras de controlá-lo. Nesse sentido, uma estética da comunicação – a área, não só o livro – é uma proposta de atuar nas micropolíticas do cotidiano.


Um comentário:

Anônimo disse...

Grande lançamento esse aí... Luis Mauro é uma figura importantíssima para nós que estudamos comunicação, seja como nosso professor, seja através dos livros que escreve. Ler livros como esse ajuda muitíssimo, certamente! :)