sábado, 18 de abril de 2009

Artigo



Mulher, negra e favelada
Ricardo Gomes



Talvez poucos conheçam a vida desta mulher. Carolina Maria de Jesus, nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 14 de março de 1914. Freqüentou a escola apenas ate a segunda serie, pois teve de parar de estudar para trabalhar com a mãe na lavoura. Negra e descendente de escravos, foi obrigada a deixar sua terra para vir para São Paulo, em 1947, passando a morar na extinta favela do Canindé, zona norte.
Começou trabalhando como domestica, mas por não se adaptar passou a trabalhar como catadora de papel, trabalho que realizou ate sua morte em 1977. mesmo sem ter se casado teve três filhos.
A sua historia ate esse momento se parece como a de qualquer outra mulher, e nas mesmas condições: negra, semi-alfabetizada e favelada. Mas Carolina tinha um habito pouco comum as mulheres de sua condição social> o habito pela leitura,e ela dividia seu tempo entre as tarefas da casa, catar papel, ler e escrever.
E o que esperava por ela? Em 1960, o jornalista Audalio Dantas a descobre, quando estava na favela para fazer uma matéria sobre a expansão da favela. Lá ele conhece Carolina que lhe entrega os originais de seu diário. Surge então seu primeiro livro Quarto de despejo, onde relata seu cotidiano, a miséria, o preconceitos, os abusos que sofreu, ela seus filhos e os moradores da favela.
O livro foi lançado pela Livraria Francisco Alves, em 1960 e com mais de 70 mil exemplares vendidos no mesmo ano. O sucesso foi tamanho que no ano seguinte Quarto de despejo, o diário de uma favelada foi traduzido para 14 idiomas, alcançando pelo menos 40 paises.
Mas Carolina não parou só no livro Quarto de despejo. Publicou ainda em 1961 Quarto de alvenaria, em 1963 Provérbios e pedaços de fome e finalmente Diário de Bitita, lançado pela editora francesa A. M. Métailié, em 1982. uma pena que Carolina já havia morrido, não chegando a ver o sucesso do livro. Sua escrita menciona poetas brasileiros como Casimiro de Abreu, Castro Alves, provavelmente ela teria acesso a esses escritores em leituras nas casas onde trabalhou.
Mesmo pouco conhecida do grande público, Carolina Maria de Jesus ganhou destaque com sua obra, que mescla reflexos da linguagem oral com termos da linguagem escrita culta. Outro traço particular de Carolina Maria de Jesus é a sua consciência política e social.

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